Alckmin inaugura serviço em meio a protestos em São Bernardo

O governador Geraldo Alckmin inaugurou o primeiro serviço especializado em tratamento de gestantes com dependência química do Estado, no Hospital Psiquiátrico Lacan, em São Bernardo, na manhã desta terça-feira (10/04). Alckmin foi recebido por integrantes do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, que são contra a internação e isolamento de dependentes químicos, como forma de tratamento. Apesar de o comando do hospital ser municipal, a Prefeitura afirmou que só tomou conhecimento da inauguração por convite, e que a internação é contrária à política municipal de prevenção e controle de álcool e droga.

Com investimento aproximado de R$ 700 mil ao ano, o novo serviço proporcionará às gestantes com dependência química acompanhamento clínico, psiquiátrico e obstétrico. Para ocorrências de maior complexidade, também contará com o respaldo de atendimento do Hospital Geral de Diadema. “Verificamos que há aumento no número de gestantes que perdem na Justiça a guarda das crianças por conta do uso de drogas”, destacou o governador.

Manifestação – Cerca de 40 integrantes do Fórum Popular de Saúde Mental do ABCD fizeram manifestação contrária ao funcionamento do Hospital Lacan. “Muitos manicômios da Região foram fechados, esse é um dos únicos que restou. A forma de tratamento de dependentes químicos é contrária à nova política, que prevê a socialização”, destacou a militante do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, Elizabeth Henna.

O secretário de Saúde de São Bernardo, Arthur Chioro, destacou que não houve diálogo entre prefeitura e Estado para que o novo serviço fosse colocado em prática na cidade. “Como em 2009, quando o Lacan iniciou o tratamento a dependentes, ficamos sabendo do serviço por meio do convite oficial”, lamentou.

Chioro ressaltou ainda que a medida é contrária à política municipal de prevenção e controle de álcool e droga, mas também vai contra a determinação da lei federal que prevê progressiva extinção de leitos em hospitais manicomiais. “Os manicômios estão sendo substituídos por atendimentos em Caps e hospitais gerais. Além de tudo, o Lacan está sob gestão da Prefeitura e a legislação impede que haja um duplo comando da unidade”, explicou.

O secretário destacou que o atendimento às gestantes nas unidades municipais é feito da mesma maneira que os demais pacientes. “Quando estão em crise de abstinência, são acolhidos no pronto- socorro psiquiátrico. Se for necessária uma internação, que geralmente é de curta permanência, são acolhidas no Hospital Municipal Universitário, especializado em atendimento para a mulher. Saído do período crítico, que requer suporte clínico, a paciente é acolhida no Caps, com a equipe de saúde mental”, detalhou.

Internação – O governador ressaltou que é contra a internação compulsória e que o trabalho é feito para que o dependente se apresente para o tratamento voluntariamente. “Só fazemos isso quando há determinação da Justiça. Sou favorável à desospitalização. Em Franco da Rocha chegou um ponto onde havia mais de 10 mil doentes. Porém, não é possível dizer que não haverá nenhuma internação, pois há casos que são tão graves que o atendimento em ambulatório é insuficiente. O estudo tem que ser caso a caso”, destacou.

Quanto à falta de diálogo com a Prefeitura de São Bernardo, o governador destacou que o serviço irá atender gestantes de todo o Estado. “É uma referência para a Região, mas atenderá pacientes de todo o Estado”, disse.

Estrutura – Em um primeiro momento são dez leitos disponíveis no Lacan, mas há previsão de outros 15 para o hospital de Itapira, localizada a 159 km da Capital. “A dependência é uma doença e exige tratamento. Há casos que podem ser resolvidos com atendimento ambulatorial, mas outros exigem tratamento especializado. A mãe deve estar bem, pois o uso de drogas pode fazer mal ao feto”, destacou o governador.

Alckmin disse que até o final desse ano o Estado deve colocar à disposição mais 311 leitos para tratamento de álcool e drogas em São Paulo. “Estamos estudando mais 40 leitos para atendimento de adolescentes, aqui em São Bernardo”, destacou.

Mãe e criança – O secretário estadual de Saúde, Giovanni Guido Cerri, enfatizou que o serviço atenderá dois pacientes: a mãe e a criança. “Aqui a mulher poderá ficar internada na fase da gestação e ter o filho com tranquilidade. Temos uma paciente que está no oitavo mês de gestação e que veio espontaneamente, para tentar se curar da dependência química”, disse.

O atendimento às mulheres também terá continuidade após o parto, com encaminhamento da paciente para a assistência no Caps (Centro de Atendimento Psicossocial). “A ideia é criar condições mais favoráveis para a grávida e para a criança”, disse.

Fonte: ABCD Maior

3 comentários em “Alckmin inaugura serviço em meio a protestos em São Bernardo”

  1. Parabéns ao Vozes da Voz, por colaborar na mídia com assuntos virídicos, voltados a saúde mental com enfase na reforma Psiquiátrica Brasileira, e luta Antimanicomial ao qual gostaria de enfatizar, que não adianta por um lado uma gestão municipal abraçar a lei federal 10.216/01com enfase na reforma Psiquiátrica, construindo ou expandindo uma rede de atenção Psicossocial, viabilizando assim o processo de desinstitucionalização de um Hospital Psiquiatrico, ainda existente na cidade, se por outro de forma inesperada, e contrariando uma lei Federal se depare com notificado do governo da região, quanto inauguração de um projeto elaborado a sete chaves, visando a criação de novos leitos psiquiátricos dentro do espaço daquele mesmo hospital Psiquiatrico, e sem se quer abrir discussão anterior com o município.

  2. Parabenizo ao Vozes da Voz pela excelente reportagem. Realmente as ações municipais e governamentais são incongruente, elas estão caminhando em sentidos opostos. Estive presente na inauguração do aumento do número de leitos no Hospital Lacan em SBC, porém não houve espaço para a comunidade argumentar, assim como as perguntas dos repórteres que criticavam esta ação, não foram respondidas. O discurso desta cerimônia, representam claramente quais são os interesses do govero. Assistam em: http://www.youtube.com/watch?v=iZGkrvHSQhs&feature=youtu.be A Luta Antimanicomial continua, mesmo que a força do governo caminhe em outro sentido.

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